quinta-feira, 27 de maio de 2010

As Dálias são como mulheres


As dálias são como mulheres

Em seu pleno amanhecer.

Cada uma compadece com sua finura,

 Semeando dentro de uma insígnia covarde.

 Dálias, sempre chorando mesmo sem lágrimas,

Sempre a sorrir com a boca da alma.

É como campo que corresponde a fragrâncias sinceras.

Mais que madrugadas vencidas,

Tempos em pura aflorada,

Tudo em si é vida,

Vida sem dálias é nada...

Êxtase crônico

 

 

Os sarcófagos de engenho cautelar

Simbolizam as chagas dementes.

E as elegantes poeiras do mar

São madréporas de luz à beira-nuvem

[são prosa dos anfíbios voadores].

 

O excremento da silhueta preponha

Fecunda na febre dos rudimentos.

E o preceito da presença putrefacta

Suprimi a constância-custódia

[são memória da menorréia anormal].

 

O ciclope da vista formiguenha

Decifra as poupas torvadas.

E a meretriz de postigo carnal

Inflige o tracoma obséquio

[são festejos do morgue-enxoval].

 

       O moroso mel nigromântico

Pereniza os miolos mictórios.

E os nimbos da áurea-córnea

Afagam no hálitro... Ardência

[são o néscio nevisco mental].

 

A epigênese das galeras espaciais

Deflagra nos signos rutilantes.

E a queda do mercúrio estoicista

Filosofa nas artes empilhadas

[são loucura das mágoas-surdas].

 

 



Faça-se o sol

Faça-se o sol em grão e ouro em pó,

Siga-me.

Jamais deixa a resenha da luz.

Mais uma vez o dia clareia,

Chama-se em tempos, substitui a lua cheia.

Raros homens levantam com os galos...

Crianças brincam e se melam na areia.

 

Olhos tão nus, prazer da vida,

Trabalhar, então, na longa estrada.

Queria eu ser a lua erguida,

Ter muito, talvez, uma alma amada.

Faça-se o sol e eu sempre o sigo...

 



Quando morreres...

 

Quando morreres, meu amor,

Das flores sairá o néctar da tristeza

Das pessoas sairão lágrimas de sangue

E de mim... A vida que não era mais.

 

Quando morreres...

Não haverá canto de pássaros

E nem amor... Nem sentimento

E para mim... Eterna solidão.

 

Quando morreres...

Um vazio cobrirá a estória

Serás lembrada para sempre

Pelo rumo hereditário da glória.

 

Quando morreres, serei você,

E tu serás minha falsa aparência;

E num só corpo... Duas almas

No prodígio daquilo que consiste.

 

Quando morreres

Eu morrerei também

Para tua alma me satisfazer

No gosto de tua inexistência.

 

sexta-feira, 21 de maio de 2010

UM PASSO É A SUFICIÊNCIA

                                              Wilder F. Santana

1° artigo

 

A vida perpassa por onde os olhos não veem, eles se doam. As flores são as damas da magnificência. Elas controlam os tormentos humanos e ramificam dores com seu cerne. Já dizia nossa querida Clarice Lispector: “Um olho vigiava a minha vida. A esse olho eu chamava de verdade, ora de moral, ora de lei humana, ora de Deus, ora de mim”. E é verdade. Somos a consciência viva, mas perpetuamos em pequenas soluções. A visão que não se enxerga é a essência do inabitado (Wilder Santana).

Ora, tenhamos a capacidade de dar bom dia, agradecer pelas diversas acontecências que nos rodeiam. O homem liberta-se do seu caos quando a sombria névoa de ilusões desmancha-se em cicatrizes. Cicatriz é a nossa constante restauração; a pauta humana não é dotada apenas de vitórias. Grandes feridas existem e nos fazem sofrer, mas precisamos contorná-las no invólucro do amor. O que somos? Por que estamos aqui? O que fazemos, além de acontecer instantaneamente?

A educação é o dom das boas maneiras, é a nossa capacidade, não só de nos organizarmos, mas de aprendermos a respeitar uns aos outros. “Um passo é a chance de se encontrar”. Através de um passo, grandes universos podem surgir, grandes ausências podem ganhar vida. Basta crermos. Basta pularmos da ponte que nos liga à razão, e cairmos no lago dos sentimentos. Um passo é a suficiência, basta termos força para superar as barreiras. Atitudes não são apenas demonstrações, mas a virtude de dar continuidade à existência.

A prova concreta de que a amizade é o fruto da resolução fraterna é que não conseguimos habitar na solidão. O confinamento faz crer que as derrotas têm poder sobre nós, mas não nos esqueçamos de que a vela perene do mundo é o lágrima do amadurecimento. Chorar não é sofrer, é exortar a dor que se sente no mais puro modo do derretimento. A síncrese da modificação é a ousadia da compaixão.                 

Quando os maus momentos nos afligem, podemos substituí-los. O resgate de uma vida versa a própria ação da libertação. A perda não deve significar apenas transtornos, pois é no íntimo da desilusão que podemos refletir sobre o que nos fez perecer. A vida, então com o olho agudo do ressentimento. Alimentar-se na ressurreição de antigos amores.

O pó que invalida o mundo é o desterro prisioneiro e brutal da discórdia? Sim, porém a gema da esperança é o mais singelo sorriso que acende no rosto de quem ama.

No útero a grande ideia da condicionalidade. Pensamos e agimos conforme seja a argúcia. O latente prazer humano é a arte silenciosa de permanentes pesadelos. Sonhar é se ter, é se amar. Viver é mais que um sonho, é, enfim a gota de água que alimenta os segredos dos olhos que nos vigiam. Que despertem incisivas e excitantes as aves que dormem caladas em nossos ombros...