sexta-feira, 21 de maio de 2010

UM PASSO É A SUFICIÊNCIA

                                              Wilder F. Santana

1° artigo

 

A vida perpassa por onde os olhos não veem, eles se doam. As flores são as damas da magnificência. Elas controlam os tormentos humanos e ramificam dores com seu cerne. Já dizia nossa querida Clarice Lispector: “Um olho vigiava a minha vida. A esse olho eu chamava de verdade, ora de moral, ora de lei humana, ora de Deus, ora de mim”. E é verdade. Somos a consciência viva, mas perpetuamos em pequenas soluções. A visão que não se enxerga é a essência do inabitado (Wilder Santana).

Ora, tenhamos a capacidade de dar bom dia, agradecer pelas diversas acontecências que nos rodeiam. O homem liberta-se do seu caos quando a sombria névoa de ilusões desmancha-se em cicatrizes. Cicatriz é a nossa constante restauração; a pauta humana não é dotada apenas de vitórias. Grandes feridas existem e nos fazem sofrer, mas precisamos contorná-las no invólucro do amor. O que somos? Por que estamos aqui? O que fazemos, além de acontecer instantaneamente?

A educação é o dom das boas maneiras, é a nossa capacidade, não só de nos organizarmos, mas de aprendermos a respeitar uns aos outros. “Um passo é a chance de se encontrar”. Através de um passo, grandes universos podem surgir, grandes ausências podem ganhar vida. Basta crermos. Basta pularmos da ponte que nos liga à razão, e cairmos no lago dos sentimentos. Um passo é a suficiência, basta termos força para superar as barreiras. Atitudes não são apenas demonstrações, mas a virtude de dar continuidade à existência.

A prova concreta de que a amizade é o fruto da resolução fraterna é que não conseguimos habitar na solidão. O confinamento faz crer que as derrotas têm poder sobre nós, mas não nos esqueçamos de que a vela perene do mundo é o lágrima do amadurecimento. Chorar não é sofrer, é exortar a dor que se sente no mais puro modo do derretimento. A síncrese da modificação é a ousadia da compaixão.                 

Quando os maus momentos nos afligem, podemos substituí-los. O resgate de uma vida versa a própria ação da libertação. A perda não deve significar apenas transtornos, pois é no íntimo da desilusão que podemos refletir sobre o que nos fez perecer. A vida, então com o olho agudo do ressentimento. Alimentar-se na ressurreição de antigos amores.

O pó que invalida o mundo é o desterro prisioneiro e brutal da discórdia? Sim, porém a gema da esperança é o mais singelo sorriso que acende no rosto de quem ama.

No útero a grande ideia da condicionalidade. Pensamos e agimos conforme seja a argúcia. O latente prazer humano é a arte silenciosa de permanentes pesadelos. Sonhar é se ter, é se amar. Viver é mais que um sonho, é, enfim a gota de água que alimenta os segredos dos olhos que nos vigiam. Que despertem incisivas e excitantes as aves que dormem caladas em nossos ombros...

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário