domingo, 5 de dezembro de 2010

RESENHA DO LIVRO O estudo analítico do poema, de Antônio Candido

Universidade Federal da Paraíba

Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas

Resenha do Livro O estudo analítico do poema, de Antônio Candido

Wilder Fernandes de Santana

João Pessoa

Dezembro de 2010

Wilder Fernandes de Santana

Resenha do Livro O estudo analítico do poema, de Antônio Candido

Resenha crítica apresentada à disciplina “Teoria da Literatura I”, sob orientação do professor Rinaldo, como requisito para avaliação.

João Pessoa

Dezembro de 2010

· Resenha:

A partir das categorias poéticas que Antônio Candido estuda no gênero lírico, e também por meio das comparações – vezes ambíguas – existentes na estrutura dos poemas, o mesmo nos permite perceber a amplitude que existe dentro desse gênero literário.

A variação da sonoridade nos é apresentada em três poemas diferentes que constam na Antologia de Manuel Bandeira: Gazal em louvor de Hafiz; Belo Belo e Poema tirado de uma notícia de Jornal, segundo os quais enxergamos a diferença decrescente da rimática. O som, segundo Cândido, pode nos remeter a sentimentos ou a sensações variadas.

O poeta pode, fundado nessa realidade, explorá-la sistematicamente e tentar obter efeitos especiais, que utilizem a sonoridade das palavras e dos fonemas – sem falar na prática coletiva da metrificação, que oferece um arsenal de ritmos que ele adapta à sua vontade aos desígnios de ordem psicológica, etc (CANDIDO, pag. 38, § 2).

Segundo a Teoria de Grammont, existem correspondências entre a sonoridade e o sentimento, sendo a maioria dos versos divididos em aliterações e assonâncias. Segundo Antônio Cândido, Grammont busca estudar esses efeitos mostrando o valor específico de cada vogal e consoante, quando repetida ou combinada às outras, e nos dá o exemplo de como há na língua francesa, entre outras.

Entre as diversas características, também como recursos que ocorrem no interior do verso para obtenção do ritmo (segundo Grammont, o som por si só não produz efeitos se não estiver ligado ao sentido), aqui, no verso de Lamartine, observa-se:

Que le bruit des ramues qui frappaient em cadence.

Percebemos, então, no ato fonador que o “u” constado entre as cinco primeiras palavras realça de modo diferenciado do “en” que se combina nas próximas palavras. Entre os tipos de repetição, temos: com palavras (com fonemas isolados à busca de efeitos, com paralelismos, com sentenças sequenciadoras, e com fonemas marcantes), com vogais e com consoantes.

Na Rima, que segundo Manuel Bandeira é a igualdade ou semelhança de sons no término das palavras, somos induzidos ao tempo, a saber, como surgiu e as consequências de seu uso. Até hoje se usa rima, porém, se modificou bastante a maneira de utilização, dependente de cada época literária. A máxima de exigência desse recurso foi vista nos parnasianos, em que todos visavam versificar com a determinação de sons combinados. As rimas são divididas em Consoantes e Toantes. A primeira é a rima propriamente dita, a segunda é assonância no fim dos versos.

Tanto no verso como apenas em palavras separadas – ou até em sílabas -, toda a perspectiva de Cândido consiste em nos expor todo o processo preparatório na formação da poesia, ou o que podemos extrair da poesia pronta. Que recursos foram utilizados em seu processo de formação e como as sensações em geral tem a haver com a mistificação de cada fragmento.

Um poema ideal para tal tipo de análise é “Correspondances”, de Charles Baudelaire:

Correspondances, Les Fleurs du Mal, Baudelaire

La nature est un temple où de vivants piliers
Laissent parfois sortir de confuses paroles;
L'homme y passe à travers des forêts de symboles
Qui l'observent avec des regards familiers.

Comme de longs échos qui de loin se confondent
Dans une ténébreuse et profonde unité,
Vaste comme la nuit et comme la clarté,
Les parfums, les couleurs et les sons se répondent.

Il est des parfums frais comme des chairs d'enfants,
Doux comme les hautbois, verts comme les prairies,
- Et d'autres, corrompus, riches et triomphants,

Ayant l'expansion des choses infinies,
Comme l'ambre, le musc, le benjoin et l'encens,
Qui chantent les transports de l'esprit et des sens.

A partir do momento em que nos prendemos ao observar rítmico, comparando as diversas línguas existentes para se chegar a um alto grau de crítica e análise, percebemos a tamanha importância da utilidade desse aspecto literário. Dada a circunstância de o ritmo ser a alma do verso, a sua lei profunda e principal, podemos perceber que seu uso pelos poetas é algo mais que um capricho, e que o seu estudo é mais que uma série de nugas. O ritmo se conecta profundamente à sensibilidade do homem nas suas variações através do tempo, embora tenha uma intemporalidade essencial que vem de sua ligação com a própria pulsação da vida. O ritmo é eterno e sempre atual com a própria vida; a prosódia é que se liga ao espaço, tempo e à lingua. Como diz Heusler (apud Theophil Spoerri, “Der Rythmus des romancisches verses, p. 193).

Já com relação ao verso, é tido que as palavras são as unidades significativas, que cortamos em partes, desarticulamos, emendamos, apenas para analisar os fenômenos do verso e do ritmo – em outras palavras, os fenômenos que constituem a sua realidade sonora. A palavra, segundo C, é a unidade de trabalho do poeta, e a peça que compõe o verso. O ritmo cria a unidade sonora do verso, e as palavras criam sua unidade conceitual.

· A natureza

Quando se trata da natureza poética e a imagem que é emitida em sua estrutura, um amplo sentido é encontrado. A retórica e a poética, por exemplo, têm origens gregas e latinas. Segundo os retóricos que legislavam para a poesia, entre os elementos do discurso havia os adornos, que podiam ser divididos em tropos e figuras.

Por fim, quando Antônio discute acerca da natureza da metáfora, é importante prezar que, por mais que metáfora e imagem sejam diferentes, em ambas ocorre o mesmo fenômeno fundamental: alteração de sentido pela comparação, explícita ou implícita, de termos. “A liberdade e a amplitude da metáfora decorrem do caráter subjetivo da relação que ela estabelece entre os objetos.”

O primeiro autor a tratar da metáfora, tanto quanto se sabe, foi Aristóteles. Para ele, imagem e metáfora repousavam sobre o mesmo processo mental; mas já diferenciava claramente o seu grau de penetração num caso e noutro, como no arquétipo dado por Candido:

A imagem é igualmente uma metáfora; entre elas há apenas ligeira diferença. Quando Homero diz de Aquiles “que se arremessou como um leão” é uma imagem; mas quando diz: “Este leão se arremessou” é uma metáfora. Como o leão e o herói são ambos corajosos, Homero qualifica a Aquilis de leão por meio de uma transposição. (Art Rhétorique, p.325)

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